sábado, agosto 27, 2005

Os pretensos vencedores contam a sua história! (I)

O documentário Hiroshima, que foi lançado recentemente pela BBC, afigura-se-me desde logo deveras básico e normalizado segundo os cânones vigentes nos manuais pró-americanos. Tal revela-se ainda mais repreensível se tivermos em conta o prestígio desta poderosa estação britânica que o produz.

No documentário realiza-se a narração dos acontecimentos ao longo das três semanas que vão desde a experiência de Los Alamos ao eclodir da bomba em Hiroshima e os dias subsequentes. A análise dos acontecimentos é em muitos casos deveras superficial, parcial, roçagando por vezes a desconsideração pelos valores humanos. A problemática de Hiroshima sobre a realidade dos acontecimentos que a envolvem sempre se revelou em múltiplos aspectos pouco consensual entre os historiadores, jornalistas, políticos ou militares (justificado em parte por todo o secretismo que rodeou a preparação, a ocorrência e as consequências deste trágico acontecimento), o que se reflecte na profusão de publicações (livros, artigos de revistas, jornais, internet etc.) sobre este assunto, por vezes com posições e teorias muito díspares sobre determinados factos e sucedidos. Como tal um estudo ou exposição desta problemática deve ter sempre em conta o máximo exequível de posições defendidas e não se restringir à mais conveniente a dado indivíduo, organização ou nação.

No caso deste documentário da BBC ele é baseado nas teorias mais simples e mais arcaicas, numa visão fortemente americanizada dos acontecimentos. O enredo do documentário remete para as teorias imperantes até à década de 70 (instituídas pelo monopólio de autores anglo-saxónicos a essa data). Não é meu propósito aqui aprofundar a discussão sobre a problemática de Hiroshima, pois é deveras extensa e complexa, mas cingir-me o mais possível a uma (breve) análise do documentário.

No entanto recordo agora de modo sintético no que consiste esse teoria pró-americana desta problemática. Os americanos furtaram-se o mais possível a entrar na II Guerra Mundial, olvidando as loucuras que Hitler realizava na Europa (e não só). O ataque a Pearl Harbour em Dezembro de 1941 forçou essa entrada e criou desde logo um enorme ódio do povo americano aos japoneses (suplantando o ódio aos alemães), dilatando-se ainda mais ao longo da guerra pelos actos praticado pelos nipónicos. Em Julho de 1945 os alemães capitulavam. Do outro lado do mundo, o Japão cujo país se encontrava ainda mais destruído que a Alemanha teimava em resistir. A solução de massivos bombardeamentos aéreos não conduzia à rendição (incondicional) e seria necessário uma invasão terrestre. Os americanos previam pelo menos meio milhão de baixas yankees e muito mais do lado japonês, pois reiteravam que apesar de tudo o Japão ainda conservava um considerável poder de destruição. Neste contexto poderá ser divisado que a eclosão da Bomba atómica foi motivo de grande regozijo e comemoração para o povo americano com destaque para os contingentes de tropas americanas. Os americanos passaram a ver-se a si próprios como os salvadores dos japoneses, e quem estes devem uma gratidão imensurável por os terem livrado do hipotético aniquilamento global. Ainda mais pelo facto da propaganda americana caracterizar os nipónicos como um povo que na sua totalidade era alienado, kamikaze e que lutaria na guerra até ao último homem/mulher (sustentando os americanos a sua teoria no caso de Okinawa, que considero não ser correcto a sua extrapolação).


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