domingo, agosto 28, 2005

Iberismos-Iberografias-Iberologias.


A editora Campo das Letras, com sede no Porto, tem sido das editoras portuguesas que mais livros tenho tido o prazer de ler desde que foi fundada em 1994. É uma editora que prima pela qualidade e diversidade das suas publicações, e onde os autores portugueses assumem relevante destaque. Numa época onde o factor comercial e a especialização prevalecem é sempre de saudar quem intenta semear novos valores e em paralelo colher os melhores e mais maduros frutos da literatura e cultura portuguesa, progressivamente encobertos pela densa ramagem daninha que se vem apoderando deste território artístico em Portugal.

Em Março de 2005 esta editora iniciou uma nova colecção intitulado “Iberografias” em cooperação com o Centro de Estudos Ibéricos (CEI), tendo em vista a edição de trabalhos e estudos realizados no âmbito deste Centro, e desde então praticamente todos os meses tem lançado um novo volume nesta série.

O CEI foi criado em Maio de 2001, partindo de um desígnio de Eduardo Lourenço, “tendo em vista a criação de um Centro de Estudos que contribuísse para um renovado conhecimento das diversas culturas da Península e para o estudo da Civilização Ibérica como um todo”. O CEI apresenta-se como uma associação transfronteiriça formada pelas Universidades de Salamanca e de Coimbra, pelo Instituto Politécnico da Guarda e pela Autarquia da Guarda. O Centro tem a sua sede estabelecida na Guarda e tem vindo a “afirmar-se como um pólo privilegiado de encontro, reflexão, estudo e divulgação de temas comuns e afins a Portugal e Espanha”. O CEI organiza um leque de actividades muito amplo: seminários, conferências, cursos, atribui bolsas de apoio investigação, institui anualmente o prémio ”Eduardo Lourenço” no valor de 5 mil euros, edita livros e outro género de publicações, organiza exposições, ciclos de cinema, visitas e excursões culturais.

Numa época onde visão que a generalidade dos portugueses assumem sobre Espanha se tem vindo a renovar de forma quase ímpar ao que se assistiu ao longo da história dos dois estados, e onde o pensamento imperante neste domínio ainda há quatro ou cinco décadas atrás, praticamente já não alcança salientes analogias com o presente, em virtude da intensa metamorfose, que se tem assistido, das mentalidades, sistemas e estruturas dominantes; assume elevada pertinência a publicação de obras neste âmbito.

O 1º número da colecção “Iberografias”, de Março de 2005, intitulado “Iberismo e Cooperação- Passado e Futuro da Península Ibérica” é da autoria de Valentin Cabero Diéguez. Noutro post discorrei algumas linhas de análise sobre este livro.

Gostava de fazer aqui um parêntesis para denotar que o termo “Iberismo” não remete necessariamente para a união formal, efectiva, dos estados actuais que a compõem. Mais do que isso representa o estreitamento e fortalecimento de relações (em múltiplas vertentes: social, económica, cultural, científica, etc.) e um intercâmbio dinâmico e contrabalançado que inerentemente acarreta benefícios aos dois estados.

O 2º volume da colecção “O Direito e Cooperação Ibérica”, de Abril de 2005, reproduz as actas do 1.º Ciclo de Conferências "O Direito e a Cooperação Ibérica”, que de decorreu de Março a Novembro de 2003, co-organizado pelo CEI, pelo Conselho Distrital de Coimbra da Ordem dos Advogados e pelo Colégio de Advogados de Salamanca,

O 3º Volume desta colecção é muito interessante. Editado em Maio de 2005, denomina-se “O Outro Lado da Lua - A Ibéria segundo Eduardo Lourenço” e inicia-se com uma longa entrevista de Maria Manuel Baptista a Eduardo Lourenço, realizada em 2004. O livro também reproduz uma dezena de textos de Eduardo Lourenço, apresentados em livros, revistas ou conferências sobretudo desde a década de 90 até à actualidade, sobre esta temática. Brevemente espero dedicar um outro post restrito a uma apreciação (elementar) sobre este livro que de momento leio.

O 4º Volume, de Junho de 2005, “Entre Margens e Fronteiras - Para uma Geografia das Ausências e das Identidades Raianas” é da autoria de Rui Jacinto. É uma compilação de textos do autor apresentados na última dezena de anos em múltiplas publicações, que se debruçam sobre a evolução e as mudanças recentes que vêm transcorrendo nas Beiras, assentando numa vertente de análise preponderantemente geográfica, entremeado das condições e factores sócio-económicas e culturais.

O 5º Volume, de Julho de 2005, “Territórios e Culturas Ibéricas”, de Julho de 2005, é uma colectânea de textos de 19 autores dos dois países, organizado por Rui Jacinto e Virgílio Bento. Na apresentação do livro é referido que: “A possibilidade proporcionada pelo INTERREG de consolidar uma Rede de Investigação Transfronteiriça, organizada em torno do Projecto de Investigação "Culturas Ibéricas, Sociedades de Fronteira: Territórios, Sociedades e Culturas em Tempos de Mudança", encontra-se na génese da publicação que agora se dá à estampa.
(...) esta publicação resulta das comunicações dos bolseiros e investigadores do CEI apresentadas por ocasião da Conferência "Territórios e Culturas Ibéricas", que teve lugar na Guarda, nos dias 2 e 3 de dezembro de 2004.

Tal como Eduardo Lourenço alude no seu livro ainda se verifica um desconhecimento mútuo elevado entre Portugal e Espanha, e sem se cair num federalismo politico (ou invés num nacionalismo extremo, xenófobo), o que urge é a estreitamento das relações entre Portugal e Espanha. A Ibéria deverá pois assumir a “independência nacional e a convergência civilizacional” tal como Fernando Pessoa defendeu.


Comments:
"Que me perdoe F. Pessoa que me tinha enganado na frase que ele proferiu."
 
Obrigado por iberizar a rede. Eu também iberizo quanto posso. Ibérico. http://www.agal-gz.org/blogues/index.php?blog=14
 
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