segunda-feira, agosto 29, 2005

Iberismo e Cooperação - Passado e Futuro da Península Ibérica.


“Iberismo e Cooperação - Passado e Futuro da Península Ibérica” da autoria de Valentin Cabero Diéguez, publicado em Março de 2005, inaugurou a colecção “Iberografias” da Campo das Letras, em associação com a CEI, e é uma edição bilingue (bem expressiva da asserção da multiculturalidade, propensa a esta colecção).

O autor é um reputado Professor Catedrático de Geografia da Universidade de Salamanca, membro da Comissão Executiva do CEI, e Professor convidado de inúmeras faculdades de diversos países, entre as quais das Universidades de Coimbra e da Beira Interior. Cabero Diéguez afigura-se actualmente um dos maiores especialistas ibéricos dos estudos sobre as áreas raianas e de montanha ibéricas, e como tal tem consagrado diversos e relevantes ensaios sobre algumas regiões portuguesas raianas.

No ensaio deste livro Cabero Diéguez expõe a sua linha de pensamento sobre os horizontes do Iberismo, do (des)conhecimento mútuo das nações que a povoam e das salutares formas de convivência e cooperação entre elas. A exposição assenta sobretudo numa vertente histórica e geográfica, desde os primórdios das civilizações que ocuparam a Península até à actualidade, com maior ênfase no último século, de forma a nos proporcionar um panorama e uma percepção consentâneamente meticulosas com a complexidade dos múltiplos factores e variáveis que se intersectaram neste “mosaico ibérico”(J. Saramago) ao longo dos múltiplos sistemas e modos de vida que nele subsistiram.

Porque quando falamos em Ibéria referimo-nos designadamente ao território (delimitado), ao espaço, aos lugares; o autor enfatiza a influência que o modelado geográfico bem heterogéneo, tal como os climas e o coberto vegetal e solo produziram sobre as populações (e sua repartição), as suas edificações e os seus mesteres agrícolas, industriais e comerciais, bem espelhadas na variedade das paisagens rurais e urbanas que se sucedem na meseta ibérica. No entanto, e mesmo possuindo a fronteira mais antiga da Europa, “é legítimo falar de civilização mediterrânica e de feição mais singular de uma civilização ibérica que entrança, com práticas e formas comuns, os modos de vida que transcendem as diversidades e localismos daqui e dali”. (Cabero Diéguez)

No meu entender mesmo as povoações raianas revelam-se usualmente duas faces da mesma moeda, cujo vínculo e respectivas relações transfronteiriças assumem uma natural inevitabilidade, por vezes de procedência ancestral.

O autor traça uma resenha histórica das relações de foro mais político e administrativo entre os dois estados podendo-se concluir que, tendo em conta o facto de ao longo dos tempos os diversos poderes e sistemas instituídos nas nações ibéricas induziram ou retraíram a matriz de relações e de convergências intrínseca aos povos ibéricos, a sua argamassa sempre se manteve consistente e duradoura, mesmo em períodos de nacionalismo alegadamente exacerbado como o foram recentemente os estados corporativistas sobre autoridade de Salazar e Franco.

A entrada em 1986 dos dois estados para a União Europeia tem-se revelado decisiva na convergência ibérica que gradualmente se vem construindo. A mitigação das fronteiras e o incremento sustentado das relações e cooperação entre os organismos estatais, privados, das empresas e associações, e dos indivíduos dos dois países; augura um futuro auspicioso, mas onde Portugal deve assumir um papel mais activo e influente, invertendo uma relativa tendência de dependência lusa que se presencia sobretudo nos últimos anos.

O autor propõe que as elevadas diferenças a nível do desenvolvimento sócio-económico e do acervo de infra-estruturas e equipamentos que ambos os estados ainda possuem relativamente às nações do centro da Europa podem ser um elemento agregador dos dois países na prossecução de objectivos comuns.

O autor recorre frequentemente a locuções do mestre da Geografia portuguesa, Orlando Ribeiro, para alicerçar e ilustrar alguns das suas considerações, e invoca muitas outras personalidades ilustres como Oliveira Martins na sua “História da Civilização Ibérica” , Miguel Unamuno, Miguel Torga, José Saramago, etc.

Recordo que na apresentação a este livro é mencionado que “Com esta obra, o autor procura reconstruir, na sua unidade e diversidade, o mapa da Península e compreender, com visão de futuro, as relações históricas entre Espanha e Portugal, convidando o leitor a descobrir, tal como Miguel Torga o fez a partir da humilde aldeia perdida de São Martinha de Anta, o universo da Península, com verdadeiro espírito ibérico.”


Comments:
Sobre o tema das relações Portugal-Espanha,aconselho uma vista de olhos ao último número da "Atlântico" (aquele que tem, na capa, os Jerónimos com publicidade ao El Corte Inglés).
 
agradeço muito a informação.

Fernando V.
 
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