quinta-feira, maio 05, 2005

os livros entre o fogo e o deserto

A Beatriz Seabra do poesis publica passou-me o testemunho deste exercício blogosférico:

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser? A Cidade de Deus, de Santo Agostinho, para ver se ao menos me livrava do fogo dos infernos.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por uma personagem de ficção? Partindo do princípio de que Deus não é uma personagem de ficção, apanhado, mesmo, só terei ficado na infância, pelo Conan, o Rapaz do Futuro, e por outras personagem do mundo da animação, o Dartacão, o Tom Sawyer, o Lucky Luke (com os irmão Dalton e Rantanplan, o cão mais estúpido do universo) e os habitantes da aldeia de Asterix.
Mais velho, talvez o anjo Damiel, de «Asas de Desejo» (feito Hitler, na «Queda»), Gregor Samsa, da Metamorfose de Kafka, e Mersault d’ O Estrangeiro de Albert Camus.

Qual foi o último livro que compraste? Não resisti ao impulso da moda e comprei Portugal, hoje: o Medo de Existir, de José Gil. Para além disso acabei de adquirir os primeiros volumes da nova colecção do Círculo de Leitores dos reis de Portugal.

Qual o último livro que leste? Finalmente acabei de ler A Verdadeira História de Jesus, de E. P. Sanders. Um livro com um título em português fraudulento, mas muito bom. O autor parte do judaísmo da época para chegar a Jesus, tentando estabelecer o que podemos conhecer historicamente da sua figura (que é muito pouco) para depois analisar o seu pensamento e a sua acção.
Devido ao meu trabalho, acabei de ler o primeiro livro (a sair brevemente) de uma nova colecção da Quasi, dedicada a Natércia Freire, uma poeta que vale bem a pena recuperar (desculpem a publicidade).

Que livros estás a ler? Agora que acabei o livro de Sanders, voltei a pegar em alguns livros que deixei a meio:
- A Obra ao Negro, de Marguerite Yourcenar, que retrata muito bem uma dos períodos mais extraordinários da nossa história, o início da época moderna, com todo o rebuliço provocado pela Reforma e os diversos movimentos religiosos - os luteranos, os calvinistas e, sobretudo, os anabaptistas -, pelos avanços nas artes e nas ciências, com as Descobertas e a Expansão Marítima e as consequentes alterações económicas, sociais e culturais que daí resultaram. Uma obra difícil sobretudo por cruzar tanta informação, tantos acontecimentos e personagens.
- Confissões, de Santo Agostinho, obra de uma das figuras mais importantes do cristianismo (a seguir a S. Paulo talvez seja mesmo a mais importante) escrito na primeira pessoa. Há muito de moderno no carácter autobiográfico desta obra. Outro período que me fascina muito (este é mesmo o meu favorito), de grande instabilidade (sobretudo devido à iminência da queda do Império Romano do Ocidente ameaçado pelos avanços dos povos germânicos) e intensa religiosidade, como o demonstram o impulso do monaquismo (já não faltaria muito para o aparecimento de S. Bento e a sua regra), os movimentos heréticos e toda a discussão doutrinária e teológica que levaram à convocação de diversos concílios para estabelecer a natureza de Jesus.
O testemunho de Santo Agostinho é muito interessante, por um lado porque ele foi o principal Padre da Igreja e teve de lutar contra as diversas heresias que surgiram nesse período (maniqueísmo, donatismo e pelagianismo), e, por outro, porque viveu o trauma dos primeiros sinais de desmoronamento do Império (a invasão de Roma, em 410, por Alarico, e o avanço dos vândalos pelo Norte de África, onde vivia, foram dois exemplos), que o obrigou a um trabalho intenso de argumentação contra os muitos romanos que consideravam que esta invasão fora causada pelo abandono dos tradicionais deuses da cidade em detrimento do cristianismo.
- Ando ainda a ler os escritores de que mais gosto na Biblioteca de Gonçalo M. Tavares.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Levaria a Bíblia de certeza. Acho que não vale a pena justificar a escolha.
Tenho muita dificuldade em escolher os outros quatro, mas aqui vão eles: Poesia, de Daniel Faria, para me acompanhar na leitura da palavra de Deus; Dom Quixote de La Mancha, de Cervantes, por há muito tempo o querer ler e ainda não ter tido coragem de me atirar ao monstro; O Estrangeiro, de Albert Camus, por ter sido livro de que mais gostei de ler; e uma História Universal qualquer.

A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê? Com sérios riscos de não ver satisfeito o meu desejo, escolho os meus conterrâneos siX, do Vila do Conde Quasi Diário, e Dupont, d' O Vilacondense, por gostar muitos dos blogues deles. Escolho também o Alexandre para completar a trilogia dos difusos.
Obrigado Beatriz pela escolha e desculpa-me a demora.

Comments:
ok, mário... vou tentar estar à altura do desafio :-)
 
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