terça-feira, abril 26, 2005
Ratzinger/Bento XVI
Uma semana depois da eleição de Bento XVI, penso que já posso escrever com mais calma um pouco sobre este assunto. Confesso que para mim a escolha de Ratzinger foi um grande choque. Tinha muita simpatia por João Paulo II, considero que teve um pontificado positivo, mas há muito que o via, devido à idade avançada e ao seu espírito conservador e centralizador, como o principal obstáculo a um conjunto de mudanças que considero indispensáveis:
1. Uma maior abertura da Igreja nas questões da vida e da sexualidade (como penso que grande parte da comunidade católica há muito anseia): o sacerdócio das mulheres, o fim do celibato dos padres, o fim da marginalização dos homossexuais, uma doutrina menos puritana em relação à sexualidade, a aprovação dos métodos anticoncepcionais.
2. Na linha do Concílio Vaticano II, a defesa da colegialidade dos bispos e do apostolado dos leigos.
3. Uma acção mais empenhada na luta política contra a pobreza (neste aspecto, a condenação da Teologia da Libertação, o movimento que surgiu na América Latina nos finais dos anos 60, e que defendia «a opção preferencial pelos pobres», mostra bem o incómodo do Papa pelas correntes mais progressistas da Igreja e a forma autoritária como compreendia o seu magistério.)
Não tenho ilusões, sei que nenhum Papa ousaria efectuar mudanças profundas na Igreja ou alterar muito o rumo estabelecido por João Paulo II. Por isso nunca acreditei que fosse possível eleger alguém muito progressista, penso até que seria suicida, já que uma instituição com a dimensão da Igreja não pode sofrer grandes abalos. Mas esperava deste conclave um sinal de abertura, que a escolha dos cardeais recaísse em alguém moderadamente disponível para a modernidade. Com Ratzinger tudo se desmoronou, o sinal dado foi exactamente o contrário. A escolha deste foi um cerrar fileiras na ortodoxia. Pior, foi um dar a palavra aos sectores mais conservadores da Igreja.
Deste terça-feira que tento procurar as razões desta eleição. Tenho lido muita coisa, e ouvido muitas opiniões. Há quem defenda que ela se deveu ao facto de mais ninguém querer ser Papa, devido ao peso do pontificado de João Paulo II; ou que os cardeais se iludiram com todas as manifestações de apreço por Wojtyla, tanto nos últimos dias da sua morte, como no seu funeral, vendo nestas uma demonstração de que a Igreja deve manter o rumo por este estabelecido; ou, como afirma Miguel Sousa Tavares, que houve uma espécie de passagem de testemunho previamente planeada; ou ainda que os cardeais sofrem daquele complexo, típico do nosso Partido Comunista, de que a mudança poderá gerar perda de identidade.
Não faço ideia, talvez seja um pouco uma mistura de todas estas razões.
Há contudo um lado positivo nisto tudo: a desmistificação da figura pontifícia. Com João Paulo II, devido ao seu carisma, parecia que o Papa era um ser intocável. Com Bento XVI, desceu à terra. É um ser humano de quem não nos sentimos mal por dizer que não gostamos. A prova disso foram as manifestações de desagrado que surgiram entre os católicos após o anúncio da escolha de Ratzinger.
1. Uma maior abertura da Igreja nas questões da vida e da sexualidade (como penso que grande parte da comunidade católica há muito anseia): o sacerdócio das mulheres, o fim do celibato dos padres, o fim da marginalização dos homossexuais, uma doutrina menos puritana em relação à sexualidade, a aprovação dos métodos anticoncepcionais.
2. Na linha do Concílio Vaticano II, a defesa da colegialidade dos bispos e do apostolado dos leigos.
3. Uma acção mais empenhada na luta política contra a pobreza (neste aspecto, a condenação da Teologia da Libertação, o movimento que surgiu na América Latina nos finais dos anos 60, e que defendia «a opção preferencial pelos pobres», mostra bem o incómodo do Papa pelas correntes mais progressistas da Igreja e a forma autoritária como compreendia o seu magistério.)
Não tenho ilusões, sei que nenhum Papa ousaria efectuar mudanças profundas na Igreja ou alterar muito o rumo estabelecido por João Paulo II. Por isso nunca acreditei que fosse possível eleger alguém muito progressista, penso até que seria suicida, já que uma instituição com a dimensão da Igreja não pode sofrer grandes abalos. Mas esperava deste conclave um sinal de abertura, que a escolha dos cardeais recaísse em alguém moderadamente disponível para a modernidade. Com Ratzinger tudo se desmoronou, o sinal dado foi exactamente o contrário. A escolha deste foi um cerrar fileiras na ortodoxia. Pior, foi um dar a palavra aos sectores mais conservadores da Igreja.
Deste terça-feira que tento procurar as razões desta eleição. Tenho lido muita coisa, e ouvido muitas opiniões. Há quem defenda que ela se deveu ao facto de mais ninguém querer ser Papa, devido ao peso do pontificado de João Paulo II; ou que os cardeais se iludiram com todas as manifestações de apreço por Wojtyla, tanto nos últimos dias da sua morte, como no seu funeral, vendo nestas uma demonstração de que a Igreja deve manter o rumo por este estabelecido; ou, como afirma Miguel Sousa Tavares, que houve uma espécie de passagem de testemunho previamente planeada; ou ainda que os cardeais sofrem daquele complexo, típico do nosso Partido Comunista, de que a mudança poderá gerar perda de identidade.
Não faço ideia, talvez seja um pouco uma mistura de todas estas razões.
Há contudo um lado positivo nisto tudo: a desmistificação da figura pontifícia. Com João Paulo II, devido ao seu carisma, parecia que o Papa era um ser intocável. Com Bento XVI, desceu à terra. É um ser humano de quem não nos sentimos mal por dizer que não gostamos. A prova disso foram as manifestações de desagrado que surgiram entre os católicos após o anúncio da escolha de Ratzinger.