quinta-feira, abril 14, 2005

Reencontrarmo-nos com o Tempo.

Diria ter sido um admirável feito, se não fosse mesmo assombroso, deveras prodigioso!

Cerca de três milhares e meio de páginas traduzidas com profundo rigor, quatro anos devotados em grande parte à intensa tradução de uma obra assombrosamente complexa. O poeta Pedro Tamen concluiu há pouquíssimos meses a tradução integral da obra “À la Recherche…” de Proust. O sétimo e último volume: “O Tempo Reencontrado” já está no prelo.

Considero que o acto de alguém se embrenhar na tradução de uma obra desta dimensão é algo meio quimérico. Ou se avança num impulso ou então resta-se para sempre no eterno querer…

Tamen confia-nos que leu a Recherche ainda com verdes anos – e concebi o sonho, que considerava inatingível, de empreender um dia a, como diz, «homérica tradução».

Tamen revela-nos ainda que foi muito moroso nesta primorosa tradução, mesmo impróprio demais para uma obra desta espessura. Mesmo sendo Tamen conhecido pela celeridade na tradução. No entanto como ele afirma o acto de tradução é sempre em mim algo de muito disciplinado, de muito rigoroso, exige tempo, estudo, reflexão, pesquisa, experimentação.

A cultura portuguesa deve também prestar profunda gratulação à editora Relógio D´Água, pelo facto de nestes momentos de crise, a diversos níveis, ter avançado para a edição de tão voluminosa obra. Alguns dirão: voltou-se para os clássicos, que persistem sempre com boa demanda. Mas numa heptologia não se configura tal garantia! A editora onde melhor (e mais) se traduziu Virgínia Woolf (bem como importantes obras de Lawrence, Kafka, Mishima,… e claro Pessoa), de novo se balanceou por ondas bem desassossegadas.

As anteriores edições portuguesas desta obra, da Livros do Brasil e da Europa-América, são traduções brasileiras, em que se envolveram diversos tradutores (contudo Mário Quintana traduziu os 4 primeiros volumes da Recherche), tal como comummente se faz pelo mundo fora. Um só tradutor chamar a si tamanha empresa afigura-se muito raro.

Reconheço que apenas li partes do primeiro (do lado de Swann) e segundo livro (à sombra das raparigas em flor) da obra. Terei a desculpa que pouco milhares de portugueses, se tal, a leram integralmente. Sim, porque uma leitura fiel e justa estender-se-á por muitas dezenas de meses, senão anos. Um tempo infindo para o abreviado tempo actual.

Obrigada Sr. Tamen, pelo tempo bem devotado a esta Homérica Tradução.

A ler ainda este e já agora também este este artigo.


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