sexta-feira, maio 13, 2005

Monopólios ou Carteis Linguístico-Culturais!? (III)

Indique a Língua que Deseja Predefinir:
Inglês (USA)-Inglês(UK)-Inglês(Índia)–Inglês(outro)





Face às centenas de avultados e sólidos projectos de digitalização de livros e outros documentos, que se vão desenvolvendo pela Europa fora, dos quais ultimamente sobressaem, entre outros, as Bibliotecas Nacionais Digitais (a nossa nem parece ter apenas três anos de existência) ; e grande parte deles sem necessitar do braço apadrinhador da União Europeia, parece assumir alguma redundância a pretensão de se constituir a Biblioteca Digital Europeia. A França redargue assertivamente neste ponto ao defender que é justamente pela potenciação desses meritórios trabalhos insulados que se revela crucial concentrar e ampliar as múltiplas iniciativas para se constituir um só projecto global cuja grandeza ombreie com o multi-dimensional Google.

Os bibliotecários franceses insistem no perigo de uma visão monocêntrica, americana, das realidades mundiais, e contrapõem a visão multilateral, onde a história e cultura europeia ocupem o lugar que lhes é devido. Advogam ainda que o “Google Print” assume, entre outros, fins fortemente comerciais, e como tal está deveras condicionado, em função do mercado, ao longo dos processos: selecção das obras, disponibilização, difusão e comercialização das mesmas.

Considero que este último ponto se assume cada vez mais como um cliché de pretexto na argumentação conservadora europeia de certos sectores, para justificar que o patrono habitual na constituição de qualquer grande projecto seja o Estado, neste caso a União Europeia. A associação: comercial=popular(trivial) não deve ser feita de forma tão linear e o Google tem-nos demonstrado ao longo da sua (ainda) curta existência a qualidade dos seus serviços, o multiculturalismo que patenteia (o motor de busca em centenas de Línguas, os resultados de múltiplos países, etc.), os bons valores éticos que tenta defender, etc.

Sendo que os principais propósitos Google são reflectir do modo mais límpido e abrangente o mundo virtual e provir as necessidades dos utilizadores, para aumentar gradativamente o seu mercado, afigura-se que os conteúdos predominantes na Internet são efectivamente os de Língua Inglesa e americanos, que são de elevada aceitação e procura. A França e o resto da Europa, se o quiserem, terão de se esforçar por alterar este estado de coisas e aumentar a produção dos seus próprios conteúdos. A natural globalização cultural e linguística que tem ocorrido no mundo nas últimas décadas, não deve ser manietada recorrendo a meio artificiais e não totalmente democráticos. Se há sítio onde o cliente parece e deve ter sempre razão, esse lugar privilegiado é a Internet.

Apesar de alguns grupos económicos (sobretudo privados) de media, audiovisual e telecomunicações (e informática) de capital (maioritariamente) europeu serem de elevada dimensão, na generalidade não têm conseguido ombrear com os gigantes grupos americanos na mesma área, e isso sem dúvida revela-se um handicap importante, mas que certamente não deve compelir as bibliotecas e instituições similares a procurarem sempre a tutoria do estado/UE.

No entanto, na actualidade revela-se (para o bem e para o mal) que o mais importante, parece já não ser o que se possui (os conteúdos), mas o que se que mostra (ou pelos menos aparenta) possuir, o que se difunde, o que se intercambia, o que se comercializa (por câmbio: monetário, de popularidade, de difusão espacial, quota de mercado, de prestígio, de poder, de domínio). “À mulher de César não basta ser séria é preciso parecê-lo”. E o motor Google é cada vez mais a monopolizadora referência. O que não se encontra nele é (cada vez mais) como se não existisse.


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