sexta-feira, maio 13, 2005

Monopólios ou Carteis Linguístico-Culturais!? (II)

Contra-revolução Preventiva!




(flash-back)

Cerca de um mês depois do anúncio do projecto “Google Print”, o director da Biblioteca Nacional Francesa (BNF), Jean-Noel Jeanneney, no Le Monde de 23 de Janeiro, clamou aos quatro ventos que o Google Print era “a confirmação do risco da dominação americana na definição do modo que as futuras gerações conceberão o mundo”. Jeanneney perspectiva o “Google Print”, como uma componente de um plano mais vasto de movimento Revolucionário na Internet, uma espécie de coup d´état americano da Internet, encabeçado pelo Google. Jeanneney conjecturava que a literatura, a filosofia e história e europeias iriam ser reinterpretadas e quiçá reescritas através da visão do Uncle Sam Bush. Jamais! Rien!

Jeanneney refere no artigo citado que não deseja que “a Revolução Francesa seja recontada por livros escolhidos pelos Estados Unidos. A imagem apresentada pode não ser negativa ou positiva, mas certamente não será a nossa."

Era necessário uma contra-revolução que antecipasse a própria revolução!

Em Março Jeanneney sugeriu então (rendido ao copyleft) a criação de uma Biblioteca Digital Europeia que salvaguardasse a supervivência (mesmo a qualquer custo e... ventilador, dirão alguns) dos vários idiomas do velho continente e das suas obras mais preciosas, ou seja, como é de bom tom afirmar: da sua identidade histórica e sócio-cultural.

A BNF deu desde logo o exemplo e anunciou que serão colocados on-line os arquivos da imprensa escrita francesa desde o século XIX até 1944. Os trabalhos deverão começar já no próximo ano e os primeiros jornais disponíveis on-line serão o "Le Figaro", "Le Temps" e o "L'Humanité" . Está previsto que, no espaço de dois a três anos, sejam disponibilizados mais 18 títulos. Ao todo, a BNF conta neste âmbito disponibilizar 32 milhões de páginas digitalizadas.

Os países signatários da petição à UE da Biblioteca Digital defendem que deve ser a própria UE a responsável pela selecção livros e documentos a digitalizar (para evitar dissonâncias e mesmo duplicações) e até supervisionar questões de foro mais técnico, como a definição das técnicas de digitalização, a determinação das ferramentas de pesquisa, e até… de escolher critérios de apresentação de resultados!

Face às controversas afirmações de Jeanneney, o Google advogou que os temores apresentados eram infundados, e que o “Google Print” inclusive pretende expandir o projecto para o máximo número de Línguas. Revelou que inclusive estendera um convite inicial a algumas universidades franceses, as quais se remeteram ao silêncio. Para além disso, na digitalização do 15 milhões de volumes estão incluindo livros em diversos Línguas, que as Universidades possuem, pese embora o pronunciado domínio do Inglês. Mas se atentarmos que o orçamento anual da Universidade top do mundo, Harvard, é cerca de 17 vezes superior ao da Sorbonne, certamente aludimos a instituições bem desniveladas.





O projecto “Google Print” iniciou-se, por um lado, com algumas das mais prestigiadas e proficientes universidades e instituições do Mundo, que detêm o know-how e a tecnologia proporcional a um projecto desta envergadura; e por outro lado, sobretudo com obras em Língua Inglesa, com o propósito de obter a máxima viabilização económica inicial, coligindo importantes dividendos, para a prossecução do projecto a outras instituições, países e idiomas. Não podemos obliterar que o desígnio lucrativo é legítimo a qualquer empresa, e sobretudo que este projecto irá ser totalmente financiado pela Google, custando entre 115 a 155 milhões de euros, sem qualquer efectivo retorno nos primeiros anos. Por sua vez, a empresa apenas arrecadará os dividendos procedentes da publicidade neste projecto, e os primeiros livros virtuais apenas começarão a ser disponibilizados no final deste ano.

Entretanto, Jeanneney lançou recentemente, em finais de Abril, um pequeno livro: “Quand Google défie l'Europe” (que tem tido boas vendas) e na cerimónia de lançamento levantou já a possibilidade de o Google se associar ao projecto europeu, a que se seguiu dias depois uma reunião entre representantes do “Google Print” com bibliotecários da BNF. O espírito bourgeois parece que acaba sempre por triunfar! Recorde-se que Jeanneney é um historiador e autor profícuo, embora só traduzido em Portugal pela TerraMar em “Uma História da Comunicação Social”.


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