sexta-feira, maio 13, 2005

Monopólios ou Carteis Linguístico-Culturais!?

Línguas e culturas europeias em risco de serem digitalizadas (virtualizadas) pelo Google Print ? Mais Quoi?




Recentemente, a Intelligentsia Française amenizou a grande náusea sartreana que dela se afrontara (do falando logo existindo) desde que os desalmados americanos lhe infligiram a (hiperbólica) última estocada em Dezembro do transacto ano, aquando da formalização do gooooglómano projecto “Google Print”.

Este projecto, o mais ambicioso até agora apresentado pela Google, tem como objectivo digitalizar o texto integral das obras de dezenas de milhões de livros e disponibilizá-lo de forma parcial, em cada pesquisa. A face mais visível deste projecto (contudo não a única) inclui a digitalização de mais de 15 milhões de livros em dez anos (4,5 biliões de páginas virtuais de texto), provindos das bibliotecas das universidades de Michigan, Harvard, Stanford, Oxford-Bodleian e da Pública de Nova York, e colocar o seu conteúdo em acesso livre ( automatic for the people). A prioridade é para as obras mais antigas (regra geral mais valiosas e com menos restrições de copyright), embora Stanford e Michigan pretendem digitalizar na totalidade o seu acervo bibliográfico. Constata-se que este projecto é ainda, em larga medida, confundido com o “Google Scholar”.

Os franceses não sossegaram enquanto não ripostaram em face desta acometida à sua plus belle dame. Mestres nas nobres artes do espadachim, os franceses esgrimiram, durante meses, com relativa destria o florete da altercação, e encostaram uma mancheia de seus amis de cour europeus a um novel muro, coagindo-os a assinar um documento, de parcial capitulação dos seus valores relativos à livre globalização cultural e linguística. A custo, a França granjeou a vassalagem dos seus feudatários (nestes domínios): Alemanha, Espanha, Hungria, Itália e Polónia, que a ela se agregaram na proposta à União Europeia de ser mecenas da Biblioteca Digital Europeia(éen). No cerimonial que atestou esta vinculação, no dia 27 de Abril passado, em Paris, os seis países assinaram a respectiva petição à U.E., e onde se podia ler: "A herança da cultura europeia é inigualável em riqueza e diversidade. Contudo, se não for digitalizada e disponibilizada com elevada acessibilidade, esta herança poderá, amanhã, não ocupar o justo lugar na futura geografia do conhecimento.(…)”

Dois dias depois, de novo em Paris, por ocasião da assinatura da Carta Europeia da Cultura, com a presença de 16 Ministros da Cultura dos países-membros e cerca de 800 artistas e intelectuais, foi reiterado o desígnio de se constituir tal Biblioteca Digital. No entanto, o actual e quixotesco 0,12 % de orçamento da UE devotado à cultura não augura grandes perspectivas neste campo.

Paralelamente, e com o intuito de ampliar a base de sustentação/argumentação, já umas semanas antes a Biblioteca Nacional de França (BNF) lá convencera outras 18 Bibliotecas Nacionais europeias (Áustria, Bélgica, Rep. Checa, Dinamarca, Estónia, Finlândia, Alemanha, Grécia, Hungria, Itália, Lituânia, Luxemburgo, Países Baixos, Polónia, Eslovénia, Eslováquia, Espanha e Suécia) a assinar uma moção que a par de apresentar fortes críticas relativas aos planos da “Google Print”, apoiava a pretensão da instituição da Biblioteca Digital Europeia. Nesta moção a Grã-Bretanha (British National Library), Malta, Chipre e Portugal ficaram-se pelo apoio verbal.


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