segunda-feira, janeiro 31, 2005

Iraque

Já li comentários a dizer: "então e agora os da esquerda não dizem nada sobre as eleições no Iraque?". Eu digo.
1 - Para mim não é claro que a democracia seja a única resposta para todos os povos e todos os países. Quando falamos dos povos árabes, temos de admitir que são culturas diferentes e valores diferentes. As eleições, por si só, não trazem valor acrescentado a não ser quando traduzem a vontade popular. E já agora, só a título de exemplo, os russos têm melhor nível de vida agora ou na década de 80? A democracia e as eleições trouxeram-lhes alguma mais-valia no seu quotidiano? É preciso reflectir sobre isso antes de dizer que essas eleições impingidas aos iraquianos são uma conquista.
2 - Falar de eleições livres no contexto do Iraque é irresponsável. Como é que os candidatos foram escolhidos? Houve campanha eleitoral? O recenseamento foi universal? Este recenseamento foi controlado? Alguém sabe? Não chega fazer como Durão Barroso, que em jeito de provocação, tentou legitimar a posição dos países invasores. Estas eleições, para mim e até prova em contrário, foram uma fantochada. O tempo que se encarregue de provar quem tem razão.
3 - Mesmo que os iraquianos quisessem eleições e mesmo que elas tivessem sido livres e democráticas, não legitimam a invasão e o massacre de civis. Dá-me voltas ao estômago ver Blair, Bush e Barroso pavonearem-se agora, e nem sequer terem aparecido a comentar a notícia de que fiz eco há uma semana, quando admitiu-se, preto no branco, que as causas invocadas para a invasão eram uma aldrabice. Que se constitua um Tribunal Internacional para julgar estes patifes por genocídio.

Descubra as semelhanças



quarta-feira, janeiro 26, 2005

Correcções

Tenho de fazer duas correcções a posts anteriores:


Mais asneiras.

É incompreensível a posição de Francisco Louçã sobre a argolada de quinta-feira passada no debate com Paulo Portas. Por que é o homem não confessa de uma vez que meteu os pés pelas mãos? Seria bem melhor do que as desculpas esfarrapadas que disse e escreveu.
E se quiser um argumento ainda melhor: diga que ao fim de quase uma hora a olhar de frente para Paulo Portas tinha o cérebro feito em gelatina e já não conseguia atinar com nada. É muito mais convincente e com certeza a maior parte das pessoas percebe e simpatiza com esta tese.

Onde é que está?

Mais alguém pensa que esta suposta vaga de frio polar foi um embuste armado pela nossa depauperada indústria de têxteis para empurrar mais uns cachecóis, luvas e gorros?

Democrata-cristão!?

Confesso que tenho uma aversão visceral pela figura de Paulo Portas. Não é tanto a ideologia que defende que me incomoda, é sobretudo a sua postura presumida, o sorriso plástico, a fala postiça, as expressões sentidas e graves compostas artificialmente para tentar convencer as pessoas de que fala do coração. Tudo que diz me soa a falso, mesmo quando sei que diz o que pensa.
Por isso, o que quer que seja que eu possa dizer acerca dele deve ser compreendido à luz desta minha aversão. Digo isto para que as pessoas me dêem um desconto. Já sabem, quando eu disser muito mal dele, lembrem-se, eu não o suporto.
Vamos então ao assunto.
Umas das coisas que mais me irrita em Portas é a sua afirmação de democrata-cristão. É certo que isto não é original, já outros políticos do CDS (ou CDS-PP) autodenominaram-se desta maneira. Mas quando é ele que utiliza o conceito, a coisa adquire uma dimensão mais insuportável, soa muito mais a falso, primeiro porque ele repete-o com muito maior frequência (os outros líderes centristas pareciam ter maior relutância em usar o termo, e a expressão saía-lhes envergonhada. Portas não, utiliza-a à boca cheia. Não há entrevista, debate, comício ou discurso em que não faça profissão de fé da democracia-cristã), e depois porque o faz com a tal composição artificial de gestos que refiro atrás (fecha os olhos, junta as mãos em oração, ou então coloca a da direita junto do coração, inclina um pouco a cabeça, em reverência, esboça a voz embargada) para procurar mostrar convicção e dar credibilidade às suas palavras.
Ora é esta repetição ad nauseum do conceito e a artificialidade com que o faz que me incomoda. É de tal modo ostensivo que se torna ofensivo. O cristianismo exige sobriedade e senso. E exige também respeito, nos tempos que correm, os cristãos estão representados em todos os partidos e movimentos políticos, da direita à esquerda, e só por falta de respeito é que alguém, ou algum partido, se julga representante deles.


Nota: Voltarei em breve a este assunto. Quero que fique claro que nada tenho contra a existência de partidos na Europa que se intitulem democratas-cristãos. Parece paradoxal mas não é, estes partidos apareceram em contextos históricos específicos. Seria um anacronismo julgar o seu aparecimento à luz do século XXI.


As Alternativas - 3

Pedro Oliveira, do Barnabé, num excelente texto intitulado Maturidade, explica bem quais as razões para se votar no PS e por que motivo o BE e o PCP não são parceiros fiáveis. Sobre este último ponto retiro este parágrafo:
«Não tenho nada contra governos de coligação, mas o nosso panorama à esquerda não as facilita. O PCP é um partido estalinista, irreformado e irreformável. O Bloco, por enquanto, não reúne as condições para ser um parceiro fiável. Entre outras coisas, as suas posições em matéria de política de segurança e defesa e integração europeia são demasiado radicais. Mas o principal obstáculo a um entendimento PS-Bloco é, aliás, o próprio Bloco. O Bloco tem uma estratégia de crescimento a longo prazo, e como tal não se quer macular com o exercício do poder e deixar o PCP recuperar o papel de único partido de protesto. Para chegar aonde os Verdes alemães chegaram, o Bloco quer ter uma base mais sólida.»
Quem quiser ler o contraditório e o contraditório ao contraditório basta ver os posts seguintes do Barnabé.

terça-feira, janeiro 25, 2005

O medo da morte

Há um texto incrível no Abrupto sobre a morte de um padre teólogo e professor universitário de Cambridge, escrito por um leitor do blogue, que assina J. O que impressiona no testemunho é a narrativa da busca do absoluto, da procura de Deus, do aprofundamento da fé, através da poesia, da arte, da filosofia, como se fosse possível chegar a Deus pelos homens. Na hora da morte, o padre foi tomado pelo pânico, pela medo de que não houvesse Deus a acolhê-lo depois da vida.
É esta afinal a nossa história, o nosso fado, querer chegar ao Criador pelo conhecimento, mas andar sempre insatisfeito pela frustação que tal desejo provoca.

domingo, janeiro 23, 2005

As ciências sociais

No Sábado à noite, estando eu envolvido numa discussão acerca da Psicologia, fiz uma afirmação junto dos meus amigos que não medi de todo. Disse que esta disciplina praticamente não avançava e pouco se desenvolvia no conhecimento da mente humana, sobretudo no diagnóstico e na cura das patologias. Exagerei, obviamente, há milhares e milhares de investigadores nesta área, e o trabalho destes cientistas deve ter dado, e deu sem dúvida nenhuma, origem a muito conhecimento. Aceitei portanto a falha, mas desde então comecei a reflectir um pouco sobre o assunto. As questões que quero colocar não dizem respeito apenas à Psicologia, mas têm que ver com todas as ciências sociais.

Ao longo da sua história, quais foram os grandes avanços destas disciplinas? Que grandes descobertas fizeram? Que sabedoria conseguiram produzir de grande significado? O que é que fizeram de comparável com os grandes avanços da Física, da Química, da Biologia, da Astronomia, da Astrofísica? A Psicologia, especificamente, que doenças conseguiu curar, ou pelos atenuar os seus efeitos substancialmente? Olhemos para o mundo que nos rodeia, para a evolução tecnológica desenvolvida pelas ciências da natureza, o que é que de comparável as ciências humanas conseguiram criar? O que é de comparável fizeram, e só para citar os exemplos mais recentes, com a ida da sonda Huygens a Titã e a descodificação do genoma humano?

Isto leva-nos para uma outra questão, que tem que ver com o objecto das ciências sociais, o comportamento humano. Na minha opinião este é de tal modo complexo, diverso e imprevisível que não permite estabelecer conhecimento normativo com grande solidez, impedindo um progresso comparável ao das outras ciências. Sem o isolamento das causas com grande segurança, e sem a eficácia da previsão, estas ciências acabam por ter um cariz muito especulativo. Podem descrever, podem até analisar, mas não podem ir muito mais longe. Estão limitadas à partida, a sua importância deve-se mais à capacidade de nos situar no mundo em que vivemos, de nos fazer compreender melhor e nos orientar nas nossas carências e limitações, de nos desenvolver um sentido crítico mais apurado em relação às acções individuais e sociais, de forma a limitar os preconceitos e as ideias do senso comum.

Fico à espera que me arrasem. Prometo não responder.


quarta-feira, janeiro 19, 2005

Publicidade

Só hoje reparei que ainda não fiz publicidade ao meu blog: Caixa de Música fala das minhas aventuras e pensamentos musicais. Espero ouvir também os vossos delírios sonoros.

A bem dizer

Reparei que desde que comecei a publicar posts aqui, só disse mal de toda a gente. Para contrabalançar, vou fazer um elogio. Vi ontem o Frente-a-frente na SIC Notícias entre Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã. Foi excelente. As perguntas foram certeiras e as respostas concisas e direitas ao assunto. Ideias e propostas lançadas para a mesa com seriedade e sobriedade. Se dependesse só deste programa e se fosse possível, votava nos dois.
Continua amanhã (5ª feira), às 22.15h, com Louçã e Paulo Portas.

P.S.: Eu não quero dizer mal de ninguém, portanto limito-me a constatar um facto: Sócrates foi o único líder que recusou participar no programa.

Partidos na rede

No seguimento do que escrevi ontem, visitei os sites dos partidos com assento parlamentar para consultar os programas eleitorais. Imaginei que um partido que soubesse o que fazer com um web site teria o programa eleitoral completo para download, e uma página em separado com as principais linhas orientadoras e/ou propostas para consulta rápida.
O único partido que se aproxima disto é a CDU, embora as propostas estejam numa janela ao centro do ecrã, o que dificulta a leitura. Dos outros, o BE disponiliza o programa, mas apenas a versão completa, o PS nada, o PSD tem o programa de governo de 2002 (acho que não conta), e o PP nem o site a funcionar pôs.
Como se pode verificar, o esforço para utilizar um meio ao alcance de um grande número de eleitores é muito fraquinho. Ou não sabem ou não querem.

Gente fina é outra coisa

Esta notícia veio no suplemento Economia do "Público" e tem a sua piada (pena eu ser nabo e não saber colocar imagens no blogue). A juventude britânica dos subúrbios apaixonou-se pela roupa da Burberry e resolveu aderir em massa ao padrão beije com riscas cruzadas brancas, pretas e vermelhas desta marca de luxo. Como é bom de ver, as classes baixas não enriqueceram subitamente, andam todos nas falsificações obviamente (não são muito diferentes de nós estes camones), baixando as vendas da Burberry, já que os seus habituais clientes, pelos vistos, não gostam muito de se verem confundidos com as classes baixas. Que horror!!!


terça-feira, janeiro 18, 2005

Os prós, os contras e os nem por isso

Viram o "Prós e Contras" na RTP1, ontem à noite?
Só para situar quem não viu, o tema girava à volta do distanciamento entre a classe política e os eleitores, a descrença generalizada nos políticos e daí em diante. Convidados: Mário Soares, Adriano Moreira, Freitas do Amaral e Pinto Balsemão. O ponto de partida foi uma sondagem, que indicava que uma alta percentagem dos entrevistados pensa que o resultado das eleições não tem qualquer influência no quotidiano do país, não eram capazes de indicar o cabeça de lista de nenhum partido ns última legislativas, etc. Em suma, dizem que os políticos e os partidos são todos iguais.
Até aqui nada de novo. Se quiserem ver os resultados de uma sondagem semelhante (ou será a mesma?), consultem o blog "Margem de erro". O link está aqui à direita.
Voltando ao programa, não me ria tanto desde o Natal, quando vi o DVD do "Gato Fedorento".
Primeiro, reparem no painel. Desculpem lá, mas estes senhores estiveram no governo ou em cargos políticos de primeira linha. Se os portugueses andam alheados da política, cada um deles tem uma boa quota-parte de culpa. Perguntar-lhes o que fazer? Eles não sabem!!! Se soubessem, já o tinham feito quando puderam. Não é agora com 125 anos de idade que o vão descobrir.
A primeira tirada satírica da noite veio quando a apresentadora perguntou ao Miguel Cadilhe qual seria a solução para aproximar a máquina governativa dos cidadãos. Respondeu com aquela conversa neo-liberal do costume, que inclui chavões do tipo: "diminuir o peso do Estado", "administração pública mais eficiente", etc. (quanto a formar e requalificar os funcionários e valorizar as carreiras, tá quieto!!!). Um momento... Este moço foi o ministro das Finanças que esteve mais tempo na cadeira desde o 25 de Abril, não foi? Ora bem, deixem-me dizer uma coisa: ele também não sabe!!! Se soubesse, já o tinha feito.
Mas o momento que me deixou a rolar no chão agarrado à barriga aconteceu na altura em que começaram as sugestões concretas. Estava eu à espera de ouvir falar de sites na Internet, WebQuests, ou até da criação de um programa que utilizasse os mass media (televisão e Internet), quando Freitas do Amaral sugeriu (e os outros concordaram) com a criação de uma disciplina obrigatória no Ensino Secundário de Formação Cívica e Cidadania!!! Disciplina obrigatória??? Há quanto tempo estes rapazes não vão a uma escola? E já agora quem é que leccionava a disciplina? Chamamos os deputados reformados ou colocamos um dos professores que se está nas tintas para as eleições, não sabe o nome de nenhum cabeça-de-lista, e de caminho, nem sabe quando é o próximo acto eleitoral?

segunda-feira, janeiro 17, 2005

Ciberdúvidas

Uma grande notícia para aqueles que gostam de aperfeiçoar os seus conhecimentos de português. O serviço do Ciberdúvidas, que tem um dos mais extraordinários sites portugueses, a partir de Março vai começar a esclarecer telespectadores e ouvintes através de programas na RTP1, Antena 2 e RDP África.
Na RTP, o programa de consultadoria linguística vai passar às terças-feiras, a seguir ao Telejornal, integrado num magazine diário de dez minutos com cinco temáticas diferentes (outras temáticas são ambiente, defesa do consumidor, segurança na estrada e artes e espectáculos). Parabéns à RTP, serviço público em horário nobre.


domingo, janeiro 16, 2005

Terrorismo

Primeiro foi a notícia, referida pelo Alexandre, de que os inspectores dos Estados Unidos da América desistiram de procurar as armas de destruição maciça no Iraque. Agora surge um documento elaborado pela National Intelligence Council (NIC), um “think tank” integrado na estrutura da CIA, os serviços secretos dos Estados Unidos, a afirmar que a guerra no Iraque se está a tornar «num campo de treino para terroristas», e que este país – que apenas tinha, segundo as palavras da CIA, “laços circunstanciais” com membros da AL Qaeda -, é, actualmente, «um palco privilegiado para actividade terrorista internacional.
Nada de novo, já sabíamos todos disto, aliás antes mesmo de a guerra começar, mas o que é interessante é que são os próprios americanos a deixar cair, um a um, todos os argumentos a favor da intervenção no Iraque. Mas nem por isso mudam o discurso, a manter os argumentos de que a invasão se justificou pela luta contra o terrorismo, e que quem for contra está a dar sinais de debilidade em relação aos terroristas.


sábado, janeiro 15, 2005

Contraditório ao contraditório

Muito bem, aqui vai o contraditório ao contraditório.

[Apenas um aparte, não deixa de ser curioso a inclusão dos comunistas no tronco das forças políticas que defendem o Estado-Providência (ou de Bem-Estar), pois este foi criado pelos partidos socialistas e sociais-democratas exactamente para impedir a expansão do comunismo.]

Mas vamos ao que interessa.

(1) Falta claramente apontar um tipo de eleitor que vota no PS, que são aqueles que se colocam ideologicamente no centro-esquerda, como eu. Eles existem, não?!
Nunca percebi qual é o mal do centro, por que razão é que apenas as pessoas que se posicionam em campos extremados é que defendem ideologias. Também não percebo porque terei de optar entre neo-liberalismo e Estado-Providência. Parece-me uma divisão demasiado maniqueísta.
Eu acredito numa sociedade de mercado, a que até agora maior prosperidade gerou em toda história da humanidade – aliás tenho sempre muito receio das pessoas que vêm com grandes ideologias de regeneração da sociedade, já que o resultado tem sido invariavelmente trágico - mas defendo que os poderes políticos e do Estado devem ser interventivos – e é nisso que me revejo no centro-esquerda -, uma vez que a sociedade de mercado provoca desequilíbrios e desigualdades. A intervenção pública é assim importante para promover uma melhor distribuição dos bens e rendimentos, uma maior equidade e justiça social, e a satisfação das necessidades básicas de toda a população.
A seu tempo o Estado de Bem-Estar foi o melhor meio para se alcançar estes objectivos. Actualmente, não é, e se não reformularmos este modelo podemos atrofiar o desenvolvimento e pôr em causa as medidas de protecção social, já que o Estado passa por gravíssimos problemas de financiamento. Não estamos no período de grande expansão económica do pós-guerra, entretanto passámos por crises petrolíferas gravíssimas, sofremos o envelhecimento da população – que fez baixar em grande escala o orçamento da segurança social – e deparámo-nos com a concorrência dos países asiáticos (em dimensões até então desconhecidas).
Não me peçam para explicar como fazer esta reformulação, que eu não sei, julgo, contudo, que passará por pôr em causa o cariz universalista do Estado de Bem-Estar.

(2) Afinal qual é o drama do modelo emanado de Bruxelas? Sou europeísta convicto e espero que Portugal se mantenha sempre na Europa. É o nosso garante de desenvolvimento, ao contrário do que defendem os seus detractores. Gostava de saber como estaríamos agora se não fizéssemos parte da União Europeia.

(3) Sejamos claros, destas eleições, a partir do momento em que não é possível uma coligação com os socialistas, só poderão resultar três cenários: [i] uma coligação de direita; [ii] um governo maioritário do PS; [iii] um governo minoritário do PS. Sabendo que muito, mesmo muito, dificilmente os socialistas conseguirão uma maioria absoluta, sobra a coligação de direita e o governo minoritário do PS. Ou seja, ou apanhamos outra vez com o nosso desgraçado duo Santana/Portas ou apanhamos com a instabilidade.
Eu se fosse responsável pela campanha social-democrata apostava tudo nisto.

(4) Por fim, eu não defendo que os bloquistas ou comunistas se alinhem com as políticas do PS, gostava é que houvesse um partido menos radical. O Bloco de Esquerda, ou antes, o Bloco de Extrema-Esquerda, no poder era o caos. Estou mesmo a ver todos os empresários portugueses e estrangeiros em debandada.


sexta-feira, janeiro 14, 2005

Totonegócio

Os clubes de futebol têm mesmo as costas larguíssimas! Como a Ano Nacional das Asneiras segue o seu ritmo imparável, toca a fazer dos clubes bodes expiatórios para dar a imagem de seriedade que o governo não tem.
Vamos pôr as coisas em pratos limpos. O Totobola é uma autêntica vigarice, perpetrada pela Santa Casa de Misericódia de Lisboa (que neste caso não tem nada de santa) e pelos sucessivos governos, e com a anuência das direcções dos clubes de futebol e da Liga de Clubes, que neste caso têm dado uma péssima lição de gestão.
Em qualquer circunstância, quem teria direito a explorar o Totobola seriam sempre os clubes de futebol. E nos países em que isto acontece, o Totobola é um jogo lucrativo.
Em Portugal, a Santa Casa explorou a imagem dos clubes durante décadas, dando como contrapartida umas migalhas das receitas do jogo. Assim que lhe cheirou que os clubes poderiam ter alguma hipótese de tomar conta daquilo que deveria ser deles, tratou logo de arranjar maneira de simultaneamente, impedir politicamente que isso acontecesse, e esconder o Totobola atrás do Totoloto e outros jogos, de forma a que as receitas diminuíssem até ao estado actual, em que já não chegam para pagar umas dívidas ao fisco.
E ainda para mais, nem assim a Santa Casa larga o osso. Sabem muito bem que, se a gestão passasse para os clubes, outro galo cantaria e o Totoloto e afins sofreriam consequências.
Mas o que me lixa mais é ver a Maria José Morgado, por quem nutro um ódio de estimação dedicado às pessoas que procuram protagonismo a todo custo, alicerçado em afirmações demagógicas, falar em "governo ajoelhado" e "máfia do futebol". E onde é que estão os presidentes dos clubes, sempre tão prestos a falar sobre tudo o que não tem interesse nenhum, e tão caladinhos agora?

Contraditório

Confesso que até senti um aperto no coração ao ler o último post do Mário. Se o PCP e o BE só forem opções se alinharem com as políticas do PS, então não vale a pena irem a votos.
Não compreendo o argumento da "vitória da esquerda". Para explicar claramente a minha posição não chega um post (teria de escrever um manifesto), mas é para mim claro que o PS afastou-se tanto das orientações ideológicas que regem os partidos ditos "de esquerda", que não percebo como poderiam o PCP ou o BE aceitar uma coligação. Seria no mínimo enganar quem neles votou.
Assumindo os dois troncos pelos quais alinham as forças políticas inseridas no nosso sistema capitalista (defesa do neo-liberalismo e defesa do estado-providência), o PSD enquadra-se claramente no primeiro, o PCP e o BE no segundo, o PP não quer estar em lado nenhum, e o PS actual, ninguém sabe.
Esta falta de definição, que tanto apoia incondicionalmente o modelo de desenvolvimento emanado de Bruxelas como defende o sistema de saúde estatal, é o que afasta as pessoas que são ideologicamente, e não circunstancialmente, de esquerda.
Para mim, o PS actual só é opção para três tipos de eleitores: os que votam PS porque votam PS; os que navegam ao sabor das politiquices de ocasião, e estão chateados com o governo; e aqueles, como o Mário, que não acreditam na mudança de rumo de Portugal, da Europa e do Mundo, e escolhem o menos pior.

bom chi bom...

O caso de Morais Sarmento em S. Tomé e Príncipe é folclórico, mas o que me deixou mais intrigado é que ocorreu uma semana depois das declarações da inefável (e provavelmente inimputável) Ministra da Educação, acerca dos resultados da auditoria feita ao concurso de professores e da sua presença no Parlamento.
No primeiro caso, faltou seriedade. Mas o segundo é uma das demonstrações mais incríveis de incompetência de que tenho memória. E em ambas gastou-se muito mal o dinheiro dos contribuintes.
Surpresa! Morais Sarmento foi quase esquartejado pela imprensa. Seabra safou-se com um "isto não se faz".
Será que mais vale incompetente que chico-esperto?

quarta-feira, janeiro 12, 2005

As alternativas - 2

No dia 22 de Dezembro escrevi, num post intitulado As Alternativas, que em Portugal quem for de esquerda e não estiver satisfeito com o PS não tem nenhuma alternativa, ao não ser que queira votar em partidos extremados. Nesta segunda-feira Paulo Gorjão, num post do Bloguítica (que só hoje é que pude ler), comenta uma entrevista de João Teixeira Lopes ao Capital, mostrando bem qual é a posição do BE e por que razão este partido não é opção. De facto, os bloquistas não têm interesse nenhum em chegar ao poder, sabem que se tal acontecesse perderiam parte do seu eleitorado, e estão dispostos a obrigar os socialistas a governar sozinhos, recusando-se a integrar um futuro governo. Isto porque, ao contrário do que aconteceu com PP, o BE (tal como o PCP) não está disposto a ceder um milímetro que seja nas suas posições.
É um problema que a esquerda terá de resolver se quiser chegar ao poder. De certeza que a campanha da direita vai jogar tudo nisso, no facto de só ser possível criar um executivo estável com os dois partidos da actual coligação governamental. Sabendo-se das dificuldades por que passaram os executivos de Guterres, e tendo-se a noção de que dificilmente o PS chegará à maioria, um discurso alarmista do género «se o PS ganhar entraremos novamente no pântano» poderá ser eficaz. Compreensivelmente. De facto, qual será melhor, um governo estável de direita, ou um novo governo minoritário de esquerda? Eu, que sou socialista, não tenho dúvidas, mas uma parte considerável do eleitorado poderá ter e votar à direita.

Sem comentários

Os "inspectores" dos Estados Unidos da América desistiram de procurar armas de destruição maciça no Iraque.
O relatório do chefe dos "inspectores" conclui que "Saddam Hussein tinha a intenção mas não a capacidade de fabricar armas de destruição maciça, contrariamente ao que afirmou o Governo americano para justificar a intervenção militar dos Estados Unidos no Iraque".
Entretanto aguardemos um pedido de desculpas formal por parte da aliança da invasão, ou seja, Estados Unidos, Inglaterra, Portugal e Espanha, dirigido à ONU e aos países que não alinharam, em especial a Alemanha, França e Brasil, e que por isso foram duramente atacados.
As nossas tropas voltam quando?...

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Os tais 3%

Li ontem uma proposta interessante do BE: fazer com que os investimentos considerados prioritários não fossem contabilizados para o cálculo do défice das contas públicas, tendo em conta o Pacto de Estabilidade.
Acho a ideia correcta: separar o que são realmente despesas do investimento imprescindível em áreas vitais do desenvolvimento social e económico.
Gostava de ouvir a opinião de quem percebe mais de economia do que eu: isto é viável?

sexta-feira, janeiro 07, 2005

Parlamento para quê?

No seguimento do não oficialmente decretado Ano Nacional das Asneiras, Sampaio defende uma alteração à lei eleitoral que permita facilitar a criação de maiorias parlamentares, ou maiorias absolutas, como se queira chamar.
Do alto da sua douta sabedoria democrática, o nosso Presidente não acha suficiente que, em casos extremos (mas não tanto como isso), pouco mais de 40% de votos expressos sejam suficientes para que um partido obtenha a maioria absoluta, nem acha pouco correcto que um partido obtenha 3% de votos e só tenha 1,5% dos deputados.
Eu tenho a noção que um consenso é uma conquista quando é obtido através do refinamento de opiniões à partida díspares. Sampaio é um dos que acha que um consenso é um somatório de opiniões todas iguais.
Mas afinal, para quê é que esta gente quer um Parlamento? Mas valia eleger um Presidente da República que definisse tudo: ministros, orçamento, plano de governo, etc. É igual a uma maioria absoluta e escusamos de nos chatear mais com isso. Presidencialismo já!

Damien Rice

Confesso que tenho muita dificuldade em falar de música, em explicar por que razão gosto de um determinado som, de uma determinada voz, de um determinado timbre, ou de uma determinada melodia. Por isso, raramente vou escrever sobre música neste blogue, para não cair no erro de muitos críticos que apenas sabem dizer «gosto, não gosto». Este post é um desses momentos raros.
Há um disco que ultimamente me tem feito as delícias, é o álbum “O”, o primeiro e único de Damien Rice. Canções simples e extremamente melódicas, tocadas ao violão, trabalhadas por uma produção sóbria que cruza sons acústicos e arranjos orquestrais. Damien Rice pertence àquele género de “songwriters”, como Nick Drake, Leonard Cohen, Nick Cave, ou Perry Blake, que apostam tudo em grandes canções, seja lá o que isso significa, na busca interminável de novas e sublimes linhas melódicas.


quinta-feira, janeiro 06, 2005

get your war on

"get your war on" (http://www.mnftiu.cc/mnftiu.cc/war.html) é um site fantástico. Começou a actividade depois da invasão do Afeganistão, e é uma série de tiras aos quadradinhos repletas de sarcasmo e muita, mas mesmo muita inteligência e piada. Trata essencialmente dos acontecimentos que circundam o 11 de Setembro, e as invasões do Afeganistão e do Iraque. Por vezes é difícil perceber o contexto, quando refere pessoas ou acontecimentos muito específicos, mas geralmente é do melhor que existe na Internet.
Só o posso recomendar a quem tem bons conhecimentos de Inglês ( quem não tiver não apanha nada). Infelizmente nos últimos meses há cada vez menos tiras novas, o que pode indiciar que a produção está para acabar. Aproveitem enquanto dura.
Como bónus, a última tira disponível:


Ninguém fez mais por Portugal? - II

Parece que ninguém percebeu muito bem o que quis dizer no último post. Mais do que criticar a utilização da imagem de Cavaco Silva no cartaz (sobre isso falo mais nos comentários do que propriamente no post), o que eu pretendia era comentar a forma como Santana Lopes tem conduzido a campanha. O presidente do PSD tem procurado potenciar a herança do partido, aproveitando o trabalho feito pelos anteriores governos sociais-democratas. Isto é perfeitamente natural, só que tem alguns problemas: primeiro, não pode ser feito de forma exclusiva, como julgo estar agora a acontecer - Santana parece estar à espera de ganhar as eleições com a força do PSD sem dar as mais-valias que um líder necessariamente tem de dar; segundo, ele dificilmente consegue convencer que tem legitimidade para assumir essa herança; terceiro, são os próprios notáveis do PSD que não o querem ver como herdeiro, pois não se identificam com ele – pior, são exactamente estes que mais o criticam.


quarta-feira, janeiro 05, 2005

Ninguém fez mais por Portugal?

Este problema dos cartazes “Ninguém fez mais por Portugal” tem muito que ver com a atitude abusiva que Santana Lopes tem assumido desde que começaram as primeiras críticas ao seu governo. Vendo-se acossado por todos os lados, o primeiro-ministro por várias vezes se virou para a oposição respondendo com a expressão «fomos nós[PSD] que fizemos…», incluindo nesse “nós” exactamente muitos dos que mais o criticavam. O exemplo do caso Marcelo foi o mais paradigmático, quando o acusavam de estar a fazer pressão sobre os media, Santana respondeu com este «fomos nós que abrimos a televisão à iniciativa privada», atirando-se aos partidos da oposição, quando os ataques vinham de dentro do seu partido, de muitas das pessoas que de facto tinham permitido o aparecimento dos canais privados. Isto, além de ser abusivo, revela a sua fragilidade enquanto líder. Sabendo que tem falta de capital político, Santana abriga-se no PSD (ou PPD-PSD, como ele, só ele, costuma dizer), confiando na força eleitoral deste partido - admitindo que é mais fraco que ele -, e procurando potenciar uma herança que lhe não pertence. Ou seja, quer ganhar não pelo seu trabalho, mas exclusivamente pelo o que os seus antecessores fizeram, mesmo sabendo que entre estes se incluem os que mais o detestam e que estão mortinhos por o ver da política para fora. Com a recusa de Cavaco Silva em aparecer a seu lado no cartaz, Santana definitivamente terá de mudar de táctica, para evitar mais vergonhas.


domingo, janeiro 02, 2005

Evolução da população mundial

A propósito do post anterior sobre o Bangladesh, deixo aqui as informações e os links que o Fernando Vilarinho colocou nos comentários:

Actualmente os bangladeshianos (!) são 142 milhões, mas daqui a 45 anos, em 2050, está previsto serem 280 milhões. Só o dobro!!


Aqui pode ser visto mais informação, como a descida nas próximas décadas da Espanha (o país mais envelhecido do mundo em 2012); a contínua explosão dos indianos; a descida abrupta da Rússia; a forte subida dos países africanos (Etiópia, Uganda, República do Congo, Nigéria, Egipto, etc.):

Este artigo é sintomático da profunda crise demográfica (com graves repercussões socioeconómicas) que vem a afectar a Espanha (o caso português tem algumas semelhanças):

Aqui pode ser observado o ranking dos países mais jovens e dos mais envelhecidos do mundo em 2000 e em 2050. Observo que não são contabilizados alguns dos microestados do mundo (sobretudos os dos países ocidentais, como São Marino, Mónaco, Liechenstein,... cujas populações são bem envelhecidas). Como disse, em 2012 a Espanha será o país mais envelhecido do mundo (se não se contabilizar estes microestados) e pelo menos em 2050 será mesmo o país mais envelhecido de todos (todos) no mundo, com uma média etária aproximada aos 50 anos!!!


Dos diversos artigos que consultei sobre o envelhecimento da população espanhola, estes dois são muito interessantes:


A configuração da população portuguesa está bem descrita aqui.



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