sexta-feira, maio 13, 2005
Natércia Freire
Um pouco de publicidade, ou talvez não.
Aqui na Quasi andamos um pouco atarantados com o trabalho de edição dos dois primeiros livros de uma nova colecção – Biblioteca “Liberta em Pedra” –, que editará a obra publicada em vida de Natércia Freire (mais alguns textos inéditos). Para mim, tem sido uma oportunidade única para conhecer esta extraordinária poeta que andava um pouco esquecida.
Deixo-vos este poema absolutamente incrível do livro Horizonte Fechado, editado em 1942.
MENINAS
As meninas são todas como eu:
a guardar astros que serão bordados,
a recolher os olhos deslumbrados
depois de uma viagem pelo Céu.
E vestem blusas para esperar a tarde
que há-de surgir ao fundo da vereda
e crispam dedos de sonhar a seda
que a tarde trouxe e na cantiga arde.
e debruçam o corpo para a lua
e temem vultos negros para a rua
e sentem fogo a iluminar-lhe o peito.
e olham luar correndo nas campinas
e são felizes porque são meninas
e porque a vida as vai fazer mudadas.