domingo, fevereiro 13, 2005

Magda Goebbels – 13 de Fevereiro de 1945

Faz hoje exactamente 60 anos, cerca de três meses antes da queda de Berlim, que Magda Goebbels, mulher de Joseph Goebbels, por quem Hitler havia sentido uma paixão platónica, recebeu a visita de Ello Quandt, sua amiga e cunhada, a quem fez estas impressionantes confidências*:

«Tenho de dizer-te uma coisa (…). Menti-te. Falei-te das armas milagrosas… É tudo uma tolice, uma sórdida fraude cozinhada por Joseph. Não nos resta nada, a derrota total é uma questão de poucas semanas (…). A curto ou a longo prazo, toda a Europa vai cair nas mãos dos bolcheviques. No que nos diz respeito, estando nós à cabeça do Terceiro Reich, devemos aceitar as consequências. Exigimos coisas inimagináveis à Alemanha e tratámos os outros povos com dureza. Os vencedores vingar-se-ão e não podemos parecer cobardes. Todo o mundo tem direito a viver. Mas nós não. Fracassámos. (…)
Eu estava aqui. Eu acreditava em Hitler e em Joseph Goebbels. Sou parte do Terceiro Reich (…). Se sobrevivo deter-me-ão e interrogar-me-ão sobre Joseph. Se digo a verdade, terei de retratá-lo como era, de descrever o que acontecia por trás das cortinas, e qualquer pessoa respeitável se afastará de mim com asco… Joseph é o meu esposo, devo-lhe lealdade e camaradagem, inclusive depois da morte… nunca poderia acusar-lhe de nada. (…)
Levaremos [os filhos] connosco porque são belos de mais para o mundo que se avizinha. (…)
Não te esqueças do que passou, Ello. Recordas-te do que disse sobre o que aconteceu no café “Anast” de Munique, quando o Führer viu aquele pequeno judeu e disse que adoraria calcá-lo como a um bicho? Eu não podia acreditar. Pensei que o dizia da boca para fora. Mas depois fê-lo. Passaram tantas coisas cruéis e inexplicáveis num sistema que eu também representava!... Ello, tenho de levar os meninos comigo. Só ficará Harold [do primeiro matrimónio], ele não é um Goebbels e felizmente está numa prisão inglesa. (…) Mas não morrerão. Nenhum de nós morrerá. Atravessaremos uma porta escura para uma nova vida.»

Como comentar estas palavras? Há no tom de Magda Goebbels uma mistura de pragmatismo cínico e altivez perante a derrota, uma percepção de certa forma comovente do erro, uma manifestação de ignorância, apesar da desconfiança, em relação aos crimes cometidos pelo nazismo, uma lealdade extremada ao marido e até ao Terceiro Reich, e uma metafísica pacóvia (será?) diante da morte iminente.


* Nota: este texto foi tirado do artigo El Búnquer, de David Solar, publicado na revista “La Aventura de la Historia”, de Novembro 2004. A tradução é minha, e imagino que não seja a mais perfeita.


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