sexta-feira, fevereiro 11, 2005
João Paulo II
Agora que o Papa está melhor já posso falar sobre este assunto. Não tenho nada contra João Paulo II, considero até que fez e está a fazer um bom pontificado, embora haja na sua acção aspectos que me desagradem, como a excessiva importância dada às questões da sexualidade (compreendo perfeitamente a sua posição conservadora em relação a estes temas, a sua idade assim o determina, mas julgo que a Igreja tem assuntos bem mais pertinentes a tratar).
Julgo, no entanto, que esta situação de impasse gerada pelos seus problemas de saúde está a ser bastante prejudicial à Igreja. Não faz sentido que uma pessoa tão débil em termos físicos possa estar à frente de uma instituição com esta dimensão. É certo que não é da tradição a resignação dos papas, mas há que ter em consideração que a medicina evoluiu muito nos últimos cem anos, que nunca como agora foi possível adiar a morte apesar da doença, manter a vida de um ser humano até uma situação de total fragilidade física, como acontece com João Paulo II. Este, que dificilmente poderá fazer peregrinações, presidir a liturgias e tratar dos assuntos quotidianos, só para referir as tarefas mais corriqueiras da sua função, não está por isso, e apesar da lucidez e a determinação que todos lhe reconhecem, em condições de ser o chefe daquela que é a maior comunidade religiosa do mundo, com todos os desafios que advém deste facto. A Igreja precisa de alguém na plenitude das suas capacidades para poder responder a estes desafios. Pode parecer cruel dizer uma coisa destas, mas é muito pior assistir serenamente ao definhamento de uma pessoa só por esta ser um líder religioso.
Só para completar a informação, aqui fica a distribuição por continentes dos 119 cardeais eleitores (entre parêntesis o total dos cardeais):
Europa – 58 (94)
América Latina – 22 (31)
América do Norte – 14 (18)
África – 12 (16)
Ásia – 11 (18)
Oceânia – 2 (5)
No entanto, parece-me que a questão da sucessão do Papa não é a mais importante que a Igreja Católica atravessa.
O mundo precisa de religiões que olhem para os lados. Enquanto as instuições avançam, as religiões perderam-se num compasso de espera inútil e que só lhes têm tirado discernimento para acompanhar as sociedades.
No século XXI é impossível dissociar fé e razão. Se continuarmos por este caminho não haverá movimento religioso que resista ao pragmatismo crescente do mundo ocidental.
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