quinta-feira, maio 26, 2005
A Queda - Hitler e o Fim do Terceiro Reich

Confesso que andava já há muito tempo curioso por ver este filme, que demorou eternidades a chegar a Portugal. A nossa crítica arrasou-o (pelo menos a do Público) mas considero que injustamente. É uma excelente reconstituição de um dos momentos mais absurdos da história contemporânea. É certo que o argumento poderia ter assumido uma postura mais crítica em relação às fontes recolhidas (há demasiada gente inocente e ingénua no filme, e algumas das pessoas são retratadas com muita benevolência – veja-se o caso de Albert Speer, número dois do regime, que estudos recentes vêm confirmar ligações inequívocas à construção do campo de concentração de Auschwitz), mas julgo que o filme é muito rico pelo modo como nos apresenta o ambiente claustrofóbico e irreal do bunker de Hitler, o centro do regime nazi na sua fase decadente, uma espécie de espaço simbólico da implosão do nacional-socialismo, encolhido num exíguo reduto subterrâneo.
O bunker funciona quase como um espaço de acolhimento para o espectador. Ao assistir ao filme tornamo-nos seus habitantes. De vez em quando saímos, para visitar a cidade em escombros, mas quase sempre somos remetidos para o abrigo subterrâneo. É aqui que se passam quase todas as acções e onde vivem a maioria das personagens. Tudo o que sabemos é através dele. Assistimos ao dia-a-dia dos que lá vivem, as reuniões, as ordens absurdas de Hitler, as discussões entre os diversos comandos, as intrigas, a tensão crescente, a desmoralização gradual das hostes, a recusa de rendição. Como eles conhecemos a marcha da guerra apenas através das notícias a conta-gotas que vão surgindo, muitas vezes truncadas e vagas, a situação da resistência alemã, o desespero pelos desaires nas diversas frentes de guerra. Vemos também a figura caricatural de Hitler, doente e abatido, às vezes amável, mas quase sempre irascível, recusando-se a reconhecer a realidade, sempre a acreditar, ou a simular acreditar, na reviravolta da guerra.
A recusa da capitulação é o que mais impressiona. Hitler nunca pretendeu sobreviver em caso de derrota, e queria levar consigo o povo alemão. Como ele próprio afirmou, «um povo que se mostrou tão fraco, não merece misericórdia». O suicídio teria de ser colectivo, portanto. Quem não resistisse até à morte era traidor, e isso foi muito bem compreendido e aceite por muitos dos seus seguidores, que sentiam um autêntico fascínio pelo ditador. Há uma cena impressionante no final do filme que mostra bem a loucura alemã na 2.ª Guerra Mundial e que permite perceber porque morreu tanta gente no epílogo da guerra. Um grupo de soldados das SS, de armas na mão e prontos para a batalha, perante a notícia da capitulação, optam, automaticamente e em simultâneo, pelo suicídio, uns de tiro na nuca, outros a trincar cápsulas de veneno.
O fascínio pelo líder nazi (o filme explora muito bem isto) não explica tudo, havia também o temor real de que a história da humilhação alemã sofrida na 1.ª Guerra Mundial depois da capitulação se repetisse.