terça-feira, outubro 19, 2004
Bresson: «a decisão do olhar»
Há uns anos, numa das poucas vezes que visitei Lisboa, aproveitei para passar, com a Eduarda, e por proposta dela, pelo Centro Cultural de Belém, onde estava em exposição uma retrospectiva de Henri Cartier-Bresson. Na altura, por escandaloso que possa parecer, já que ele é um dos mais conceituados fotógrafos de sempre, não o conhecia, e não tinha por isso consciência da importância dessa exposição. Foi pois uma autêntica revelação.
Na sexta-feira à noite passou na 2 um programa sobre Cartier-Bresson, entretanto falecido. No programa, pudemos ouvir o depoimento de várias personalidades, entre elas o de Isabelle Huppert, mas o mais interessante foi ouvir o próprio Bresson a falar da sua obra, contando pequenas histórias sobre fotografias que ia descartando.
Numa dessas fotografias vêem-se uns postigos abertos com mulheres debruçadas a espreitar, e Bresson comenta: «as portas estão fechadas quando elas têm cliente». Noutra, vê-se um casal de meia-idade dentro de uma sala, de olhar contrafeito a espreitar para quem entrava, em posição inquiridora; Bresson confessa-nos que quando entrou na sala e os viu naquela pose, nem esperou por cumprimentá-los e disparou a máquina, de impressionado que ficou. Mas pertubadora foi a história que contou sobre Gandhi. Pouco antes de ser assassinado este dizia-lhe (mais ou menos isto): «A morte, a morte é tudo!»
Das inúmeras histórias que contou pudemos aperceber-nos da sua enorme sensibilidade e sentido estético (e geométrico). Junto com a capacidade que tinha de captar estados de alma (das pessoas, dos locais ou países por onde passava), e com a extraordinária intuição política, como referiu um fotógrafo do programa (de cujo nome não me lembro), que o fazia estar sempre no local certo. É devida a essa intuição que ele nos deixou talvez o maior legado fotográfico da história do século XX.
Na sexta-feira à noite passou na 2 um programa sobre Cartier-Bresson, entretanto falecido. No programa, pudemos ouvir o depoimento de várias personalidades, entre elas o de Isabelle Huppert, mas o mais interessante foi ouvir o próprio Bresson a falar da sua obra, contando pequenas histórias sobre fotografias que ia descartando.
Numa dessas fotografias vêem-se uns postigos abertos com mulheres debruçadas a espreitar, e Bresson comenta: «as portas estão fechadas quando elas têm cliente». Noutra, vê-se um casal de meia-idade dentro de uma sala, de olhar contrafeito a espreitar para quem entrava, em posição inquiridora; Bresson confessa-nos que quando entrou na sala e os viu naquela pose, nem esperou por cumprimentá-los e disparou a máquina, de impressionado que ficou. Mas pertubadora foi a história que contou sobre Gandhi. Pouco antes de ser assassinado este dizia-lhe (mais ou menos isto): «A morte, a morte é tudo!»
Das inúmeras histórias que contou pudemos aperceber-nos da sua enorme sensibilidade e sentido estético (e geométrico). Junto com a capacidade que tinha de captar estados de alma (das pessoas, dos locais ou países por onde passava), e com a extraordinária intuição política, como referiu um fotógrafo do programa (de cujo nome não me lembro), que o fazia estar sempre no local certo. É devida a essa intuição que ele nos deixou talvez o maior legado fotográfico da história do século XX.