quarta-feira, janeiro 26, 2005
Democrata-cristão!?
Confesso que tenho uma aversão visceral pela figura de Paulo Portas. Não é tanto a ideologia que defende que me incomoda, é sobretudo a sua postura presumida, o sorriso plástico, a fala postiça, as expressões sentidas e graves compostas artificialmente para tentar convencer as pessoas de que fala do coração. Tudo que diz me soa a falso, mesmo quando sei que diz o que pensa.
Por isso, o que quer que seja que eu possa dizer acerca dele deve ser compreendido à luz desta minha aversão. Digo isto para que as pessoas me dêem um desconto. Já sabem, quando eu disser muito mal dele, lembrem-se, eu não o suporto.
Vamos então ao assunto.
Umas das coisas que mais me irrita em Portas é a sua afirmação de democrata-cristão. É certo que isto não é original, já outros políticos do CDS (ou CDS-PP) autodenominaram-se desta maneira. Mas quando é ele que utiliza o conceito, a coisa adquire uma dimensão mais insuportável, soa muito mais a falso, primeiro porque ele repete-o com muito maior frequência (os outros líderes centristas pareciam ter maior relutância em usar o termo, e a expressão saía-lhes envergonhada. Portas não, utiliza-a à boca cheia. Não há entrevista, debate, comício ou discurso em que não faça profissão de fé da democracia-cristã), e depois porque o faz com a tal composição artificial de gestos que refiro atrás (fecha os olhos, junta as mãos em oração, ou então coloca a da direita junto do coração, inclina um pouco a cabeça, em reverência, esboça a voz embargada) para procurar mostrar convicção e dar credibilidade às suas palavras.
Ora é esta repetição ad nauseum do conceito e a artificialidade com que o faz que me incomoda. É de tal modo ostensivo que se torna ofensivo. O cristianismo exige sobriedade e senso. E exige também respeito, nos tempos que correm, os cristãos estão representados em todos os partidos e movimentos políticos, da direita à esquerda, e só por falta de respeito é que alguém, ou algum partido, se julga representante deles.
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