sábado, janeiro 15, 2005

Contraditório ao contraditório

Muito bem, aqui vai o contraditório ao contraditório.

[Apenas um aparte, não deixa de ser curioso a inclusão dos comunistas no tronco das forças políticas que defendem o Estado-Providência (ou de Bem-Estar), pois este foi criado pelos partidos socialistas e sociais-democratas exactamente para impedir a expansão do comunismo.]

Mas vamos ao que interessa.

(1) Falta claramente apontar um tipo de eleitor que vota no PS, que são aqueles que se colocam ideologicamente no centro-esquerda, como eu. Eles existem, não?!
Nunca percebi qual é o mal do centro, por que razão é que apenas as pessoas que se posicionam em campos extremados é que defendem ideologias. Também não percebo porque terei de optar entre neo-liberalismo e Estado-Providência. Parece-me uma divisão demasiado maniqueísta.
Eu acredito numa sociedade de mercado, a que até agora maior prosperidade gerou em toda história da humanidade – aliás tenho sempre muito receio das pessoas que vêm com grandes ideologias de regeneração da sociedade, já que o resultado tem sido invariavelmente trágico - mas defendo que os poderes políticos e do Estado devem ser interventivos – e é nisso que me revejo no centro-esquerda -, uma vez que a sociedade de mercado provoca desequilíbrios e desigualdades. A intervenção pública é assim importante para promover uma melhor distribuição dos bens e rendimentos, uma maior equidade e justiça social, e a satisfação das necessidades básicas de toda a população.
A seu tempo o Estado de Bem-Estar foi o melhor meio para se alcançar estes objectivos. Actualmente, não é, e se não reformularmos este modelo podemos atrofiar o desenvolvimento e pôr em causa as medidas de protecção social, já que o Estado passa por gravíssimos problemas de financiamento. Não estamos no período de grande expansão económica do pós-guerra, entretanto passámos por crises petrolíferas gravíssimas, sofremos o envelhecimento da população – que fez baixar em grande escala o orçamento da segurança social – e deparámo-nos com a concorrência dos países asiáticos (em dimensões até então desconhecidas).
Não me peçam para explicar como fazer esta reformulação, que eu não sei, julgo, contudo, que passará por pôr em causa o cariz universalista do Estado de Bem-Estar.

(2) Afinal qual é o drama do modelo emanado de Bruxelas? Sou europeísta convicto e espero que Portugal se mantenha sempre na Europa. É o nosso garante de desenvolvimento, ao contrário do que defendem os seus detractores. Gostava de saber como estaríamos agora se não fizéssemos parte da União Europeia.

(3) Sejamos claros, destas eleições, a partir do momento em que não é possível uma coligação com os socialistas, só poderão resultar três cenários: [i] uma coligação de direita; [ii] um governo maioritário do PS; [iii] um governo minoritário do PS. Sabendo que muito, mesmo muito, dificilmente os socialistas conseguirão uma maioria absoluta, sobra a coligação de direita e o governo minoritário do PS. Ou seja, ou apanhamos outra vez com o nosso desgraçado duo Santana/Portas ou apanhamos com a instabilidade.
Eu se fosse responsável pela campanha social-democrata apostava tudo nisto.

(4) Por fim, eu não defendo que os bloquistas ou comunistas se alinhem com as políticas do PS, gostava é que houvesse um partido menos radical. O Bloco de Esquerda, ou antes, o Bloco de Extrema-Esquerda, no poder era o caos. Estou mesmo a ver todos os empresários portugueses e estrangeiros em debandada.


Comments:
Como já disse, não quero escrever um manisfesto, mas quero esclarecer melhor algumas posições.
- Estou integralmente contigo no ponto 1, mas não vejo que a direcção do PS alinhe nas ideias que regem o centro-esquerda em que tu acreditas; por outras palavras, não vejo o PS como um partido de centro-esquerda;
- Eu quero que Portugal se mantenha na União Europeia; pretendo é que a União Europeia tenha outra visão do modelo económico e social que a Europa deve seguir. A eleição de Durão Barroso e a rigidez com que defendem o Pacto de Estabilidade não prenuncia nada de bom;
- Não compreendo o teu problema com o BE, nem sei o que é extrema-esquerda; aliás, uma das bandeiras declaradas do BE é a defesa do estado-providência.
Ainda em tempo: concordamos que os nomes dos partidos em Portugal estão todos trocados; o Partido Comunista já há muito não é comunista.
De resto, alinho contigo em tudo o mais o que disseste. Só não vou votar no PS.
 
Realmente, em Portugal, os nomes dos partidos estão todos trocados. Eu, na verdade, considero-me muito mais social-democrata do que socialista. Mas o Partido Social-Democrata português é mais um espécie de Partido Popular. Estão quase todos denominados muito mais à esquerda, e isto deve-se muito ao facto de terem sido criados ou durante os últimos anos do Estado Novo ou na sequência da revolução de Abril.
Quanto ao resto, isto já começa a meter nojo. Vamos mas é bater uma bilharada. Agora que te ganhei, já estou com outro moral.
 
Desculpa lá, mas esta não posso deixar passar em claro. Tu não me ganhaste. Eu estava a jogar com o Leonel. Mas estás desafiado para um duelo.
 
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