domingo, janeiro 23, 2005

As ciências sociais

No Sábado à noite, estando eu envolvido numa discussão acerca da Psicologia, fiz uma afirmação junto dos meus amigos que não medi de todo. Disse que esta disciplina praticamente não avançava e pouco se desenvolvia no conhecimento da mente humana, sobretudo no diagnóstico e na cura das patologias. Exagerei, obviamente, há milhares e milhares de investigadores nesta área, e o trabalho destes cientistas deve ter dado, e deu sem dúvida nenhuma, origem a muito conhecimento. Aceitei portanto a falha, mas desde então comecei a reflectir um pouco sobre o assunto. As questões que quero colocar não dizem respeito apenas à Psicologia, mas têm que ver com todas as ciências sociais.

Ao longo da sua história, quais foram os grandes avanços destas disciplinas? Que grandes descobertas fizeram? Que sabedoria conseguiram produzir de grande significado? O que é que fizeram de comparável com os grandes avanços da Física, da Química, da Biologia, da Astronomia, da Astrofísica? A Psicologia, especificamente, que doenças conseguiu curar, ou pelos atenuar os seus efeitos substancialmente? Olhemos para o mundo que nos rodeia, para a evolução tecnológica desenvolvida pelas ciências da natureza, o que é que de comparável as ciências humanas conseguiram criar? O que é de comparável fizeram, e só para citar os exemplos mais recentes, com a ida da sonda Huygens a Titã e a descodificação do genoma humano?

Isto leva-nos para uma outra questão, que tem que ver com o objecto das ciências sociais, o comportamento humano. Na minha opinião este é de tal modo complexo, diverso e imprevisível que não permite estabelecer conhecimento normativo com grande solidez, impedindo um progresso comparável ao das outras ciências. Sem o isolamento das causas com grande segurança, e sem a eficácia da previsão, estas ciências acabam por ter um cariz muito especulativo. Podem descrever, podem até analisar, mas não podem ir muito mais longe. Estão limitadas à partida, a sua importância deve-se mais à capacidade de nos situar no mundo em que vivemos, de nos fazer compreender melhor e nos orientar nas nossas carências e limitações, de nos desenvolver um sentido crítico mais apurado em relação às acções individuais e sociais, de forma a limitar os preconceitos e as ideias do senso comum.

Fico à espera que me arrasem. Prometo não responder.


Comments:
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http://www.artchive.com/artchive/g/gauguin/where.jpg

p.s.: na 1º parte fazes uma análise comparativa de teor quantitativo, e na 2º teorizas que o produto (resultado) da Psicologia é imensurável, sobretudo a nível quantitativo/objectivo. aqui não falta o contraditório!
 
Mário, o teu texto revela muitas boas ideias, e realmente a 2ª parte tenta lançar pistas para o problemática da comparação entre as ciências naturais e da natureza e por outro lado as ciências humanas e/ou sociais. Áreas dos conhecimentos de comparação complexa e por vezes inadequada (e quicá injusta)! Sobretudo como aludes pelo objecto de estudo.
As ciências humanas e/ou sociais ao longo da seu desenvolvimento têm se esforçado na criação de métodos e técnicas de estudo, análise (e terapêutica) de maior objectividade e mensurabilidade.
A progressiva estruturação e normatização do conhecimento que a Humanidade realiza desde sempre induz ao incremento da componente objectiva nas designadas ciências humanas e/ou sociais, embora sempre restam e surgem sempre novas áreas do saber índole (aparentemente) subjectiva.
Agora, considero eu (um relativo leigo nestes assuntos) que actualmente encaixar plenamente a Psicologia nas designadas ciências humanas e/ou sociais é ser algo reducionista. A componente científica da Psicologia é vastíssima e tem obtido googols de brilhantes sucessos efectivamente práticos/factuais no nosso quotidiano.

As designadas ciências humanas e/ou sociais realmente como tu dissestes e bem têm um papel fucral e ÚNICO na sua "capacidade de nos situar no mundo em que vivemos, de nos fazer compreender melhor e nos orientar nas nossas carências e limitações, de nos desenvolver um sentido crítico mais apurado em relação às acções individuais e sociais.."
 
queria dizer :

"...embora sempre restam e surgem sempre novas áreas do saber DE índole (aparentemente) subjectiva."
 
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